quarta-feira, 5 de julho de 2017

O Grupo de Paleontologia foi consultado para fornecer dados sobre aspetos geológicos / paleontológicos no passeio marítimo de Oeiras

O Grupo de Paleontologia foi consultado para  fornecer dados sobre aspetos geológicos / paleontológicos importantes encontrados na frente estuarina entre o Forte de S. Julião da Barra e a praia de Caxias no âmbito do proposta de Plano de Urbanização da Subunidade Operativa de Planeamento e Gestão Litoral Poente do Concelho de Oeiras (PU). No relatório de caraterização e diagnóstico do PU (Câmara Municipal de Oeiras, 2017) foram assinalados as ocorrências seguintes:

Pag 205

Não existem no concelho de Oeiras ocorrências que tenham justificado a identificação de monumentos geológicos ou geossítios, mas à escala local e em resultado da análise desenvolvida nos capítulos anteriores (história geológica, geomorfologia e riscos), considera-se que os seguintes elementos marcantes deverão ser salvaguardados e promovidos (na sua vertente científica, pedagógica e/ou cultural) pela intervenção no quadro do PU:

1. Afloramento de basalto, praticamente em frente ao marégrafo (outro ponto de interesse pedagógico e cultural). Exemplifica alguns dos fenómenos de intenso vulcanismo do final da Era Mesozóica (cerca de 70 milhões de anos) que surgem no chamado "complexo Lisboa - Mafra". A presença de alguns pequenos cristas esverdeados de olivina sugere uma ascensão do magma em dois tempos, indicando um vulcanismo do tipo efusivo que terá ocorrido num ambiente sub-aéreo.

2. A observação de solos de cor avermelhada, em ambos os lados do afloramento anterior. Esta cor não é vulgar, mas resulta da desagregação demorada do ferro existente no basalto e que subiu do interior da terra até à superfície.

3. Quase em frente, e portanto do lado da água e só visível em marés muito baixas, temos um outroafloramento de basalto, de tipo distinto, indicando atividade vulcânica mais do tipo explosivo.

4. Afloramento de calcário esbranquiçado, muito resistente, logo a seguir ao forte de S. João das Maias (quase em frente a um repuxo de água), repleto de fósseis - neste caso são icnofósseis, produzidos provavelmente pela atividade escavadora de crustáceos decápodes, do tipo caranguejos. Estes cavavam tocas em lamas carbonatadas num mar quente de pequena profundidade, que mais tarde fossilizaram e são conhecidas pelo nome científico de Thalassinoides. Estas tubulações e galerias apresentam comprimento e espessura muito distintos, mas quase sempre em forma de T e de Y, quase sempre com disposição horizontal (mas com alguns casos em que é oblíqua ou quase vertical), sempre com paredes lisas.

Pag 206

5. Na curva logo a seguir à foz da ribeira da Lage (no sentido Paço de Arcos - Oeiras), observam-se 2 estruturas lineares paralelas, dispostas ao longo de quase 40 metros, “impressas” em calcários micríticos do Cenomaniano (início do final do Cretácico, cerca de 90 milhões de anos). Colocando de lado uma origem animal ou vegetal, a hipótese mais provável indica que terão sido produzidos pela atividade do homem, e que seriam os dois lados do assentamento de carris, já que por ali se localizava uma pedreira de exploração de calcário. Várias perfurações na rocha, ovais e com disposição muito regular, sugerem que ali poderia ter assentado algum tipo de plataforma de embarque dos blocos retirados da pedreira.

6. Eventuais pegadas de dinossáurios - frente ao restaurante do INATEL surgem algumas depressões que são muito semelhantes a pegadas tridáctilas atribuídas geralmente a bípedes carnívoros. As dimensões, morfologia e outras caraterísticas / critérios sugerem que representam icnofósseis, embora muito mal preservados (57).




Fig. 170 - Representação dos valores geológicos e paleontológicos representativos a preservar conforme a descrição nos parágrafos anteriores (Fonte: Grupo de Paleontologia, EBI Dr Joaquim de Barros, 2016.)

Este levantamento é um contributo do Grupo de Paleontologia da Escola EBI Dr Joaquim de Barros, de Paço de Arcos, coordenado pelo Prof Celestino Coutinho, cujos trabalhos têm sido divulgados e premiados em congressos nacionais de Geocientistas em Ação promovidos pela Ciência Viva.

Este levantamento teve como base vários projetos desenvolvidos pelo Grupo de Paleontologia ao longo de vários anos:








Sem comentários:

Enviar um comentário